SÉRGIO COURI
( BRASIL – RIO DE JANEIRO )
Sérgio Couri nasceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em 1948.
Estudou Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1966-69), graduando-se pela Universidade de Brasília em 1970.
Em 1978, obteve o grau de mestre pela Universidade de Nova Iorque.
É formado em Direito (1970) e licenciado em Inglês e Francês (1966) pela Universidade Federal Fluminense. No plano acadêmico, dedica-se à Economia Política. Lecionou na UnB em 1980 e foi, de 1980 a 1982, professor de Introdução à Economia para candidatos ao Instituto Rio-Branco. Lecionou também Economia Internacional, Política Internacional e Ideologias Políticas Contemporâneas para especialistas do Executivo Federal, de 1984 a 1986.
Em 1987, deu aulas de Economia Brasileira no Rio-Branco e, em 2000, de Direito do Comércio Internacional na Universidade Católica de Brasília. Diplomata de carreira, formado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco (1969), residiu em Nova Iorque, Bogotá, Roma e Montreal.
COLETÂNEA 2020. Série Coletâneas da Academia. Brasília, DF: Academia de Letras de Brasília, 2020. 107 p.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda
INSTANTE E ETERNIDADE
Em um par de séculos
Quem saberá?
Quem saberá de propósitos
Em tardes incertas
À sombra de flamboyants?
Quem saberá
De palavras intencionais,
Gestos naturais acontecidos
Em instantes?
E se havia vento
Ou mormaço,
E se do ocaso
Já se pressentia
Algum traço?
E se o céu era nublado
Ou escampo,
E se havia aroma
Vindo do campo?
E o que mais compunha
Aquela paisagem,
Se pássaros, lago, mais flores, regato,
Se bicho-do-mato, se carrapicho,
E quais eram enfim suas cores?
E se naquele instante
Nasceu algo fervilhante,
E o que mais nasceu
Daquele mesmo instante?
E se em algum lugar
Restará recordo,
Algum registro
Da atmosfera reinante?
Se para o instante,
O passado sé destruída fantasia,
O futuro, ficção verossímil,
E nem o presente é real.
Se para a eternidade é como
Se nada houvesse existido,
Não fizesse sentido.
Se somente o instante
Faz contraponto
À eternidade.
Brasília, dezembro de 2019
HELENA
(trad. do original em inglês “Helen”)
Tudo o que ela quisera fora ser esquecida nua e só
estendendo pra a beira do mar
as células de seu corpo pigmentado
gravitando em torno de impositivos Peitos
estendendo-se com Netuno
a espuma de sua água fria deslizando por entre cima
e para baixo
Tudo o que ela quisera fora inalar
a fragrância das ervas que aguçam os sentido
compartilhando-as com areia mar e sol
servas destilando o rum
colhendo bananas coletando
frutos pulposos por toda parte
Tudo o que ela quisera foram olhos de jade
velando-a de ambiciosos indesejáveis flibusteiros
árvores nativas florando cacau nos barrancos acima
jardins exuberante ocultando nascentes
infiltrada do enxofre de domados vulcões
E barcos ao longe
Contemplando sua estrutura
aprendendo sua face externa ser
irredenta em oposição à interna
florestas úmidas pudicamente esforçando-se
por cobrir a luxuriosa exibição
com suntuosa túnica aveludada
Isso foi tudo o que ela quis
nada mais
Brasília, julho de 2020
EU NUNCA FUI DE BRIGA
Eu nunca fui de briga.
Mas fui de um Sonhador
E lutei pelos meus Sonhos.
Arremeti contra moinhos,
Crendo-os pérfidos gigante,
Golpeei com espada suas pás,
Como se lanças mortíferas.
Hoje, desperto do Sonho,
A vida se me faz mais fácil e
Inteligível,
O mundo menos intolerável e
Inconvivível.
Mas não tem graça viver sem Sonho.
Sonho é combustível de vida,
Energia que a propulsiona,
Ainda que para báratros intérminos.
Como atravessar uma vida
Sem Sonho que a humanize,
Utopia que a divinize?
Neste poema, contudo,
Rendo homenagem aos sábios
que, por medo, covardia,
Mediocridade, incompetência, ou
Cinismo.
Desde logo portam-se de modo
Que tarde demais, talvez,
Por ceticismo
Incorporo.
Não somos iguais,
Mas estamos iguais.
Estamos realmente iguais!
E porque eles destruíram o Sonho,
Vamos lutar como iguais,
Com armas de igual
Poder ofensivo!
Vandalizarei,
Queimarei pneus,
Explodirei o que vier pela frente,
Desabarei torres,
Espedaçarei pentágonos casas-brancas
(Mr. Bush, it is but sustained metaphor,
sort of poetic licence.)
Pouparei apenas
Os que transcenderem o Sonho
Rumo a Jerusalém celeste.
Eu nunca fui de briga.
Mas chega um momento de gritar
Jihad!
Chega um momento de gritar
Pohad!
E se eu vencer,
Quero uma chuva de papel pikhad.
Ciudad Del Este, 16.12.2004
*
VEJA e LEIA outros poetas do RIO DE JANEIRO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html
Página publicada em abril de 2024
|